sexta-feira, 27 de julho de 2012

POR QUE EXISTE A GESTÃO DE PESSOAS? (Sobre Feitores e Mentores)

Por esses dias escutei a pergunta que dá título a essa postagem. Na verdade, a pergunta saiu mais como um desabafo do que mesmo como um questionamento e embora tenha sido dita em contexto bem específico, ela ficou na minha cabeça, dando voltas como só as boas perguntas sabem fazer. Não, não vou aqui apontar respostas, conclusões, definições ou qualquer coisa parecida. Certamente não fará diferença alguma o que pretendo escrever, pois é apenas uma fotografia das elucubrações que minha mente fez ao ser submetida à roda viva de tão intrigante pergunta, catalisada pela própria liberdade de pensamento que me permiti dar, usando a questão apenas como um mote para raciocinar (ou racionalizar, dirão talvez os psicólogos). 

Lembro agora de saudoso professor que para "alfinetar" os adeptos, como eu, das abordagens mais comportamentais da administração, em uma de suas aulas nos disse que o primeiro gestor de pessoas que se tem registro histórico no Brasil foi o feitor de escravos. E não é que foi mesmo! Se foi uma "alfinetada", foi brilhante como o era também o professor. O fato é que a gestão de pessoas existe porque existem pessoas. Pode-se ser um gestor de pessoas bom ou deficiente, humano ou impessoal, companheiro ou tirano, servidor ou sádico, tolerante ou intransigente, mas se alguém lida de alguma forma com pessoas, seja no trabalho, em casa, na rua ou na mesa do bar, a pessoa é, quer goste ou não, um gestor de pessoas, cabendo-lhe apenas optar por qual tipo de gestor de pessoas lhe parece mais adequado, lhe cai melhor, lhe revela sua essência, seus princípios, suas ações: se um gestor de pessoas "feitor"; ou um gestor de pessoas "mentor". Ah, e por favor não me venham taxar-me de radical ou, pior ainda, me acusar de categorizar sem base científica tais polos. Se não ficou perceptível no primeiro momento, essa é uma dicotomia poética. Vale mais pelo efeito da rima (feitor/mentor) do que propriamente pela "cientificidade" da intransigente taxonomia que adora colocar tudo em "caixinhas" bem arrumadas. 

Nietzsche dizia que ninguém tira de um livro mais do que tem dentro de si. Concordo e amplio o pensamento, se assim me permitem, defendendo que ninguém, ao lidar com o outro, age diferente daquilo que tem dentro de si. Podemos até não gostar do "eu" que descobrimos nessas horas, mas ainda assim será o "eu". 

Durante muito tempo a conversa de valorizar as pessoas nas organizações  foi apenas um discurso bonito de manipulação. Ainda hoje há muito (muito mesmo!) disso, mas não mais "apenas" disso. Olhando a história em perspectiva, percebemos que no modelo agrícola-feudal detinha o poder quem possuía a "terra"; no modelo mercantil-industrial o poder estava com o detentor do capital; mas no modelo informacional para o qual estamos caminhando a passos largos, o que importa não é tanto o capital, nem muito menos a "terra", mas o conhecimento. Obviamente que ter "terra" e capital ajudam, mas não determinam necessariamente quem terá acesso ao conhecimento. Pela primeira vez na história da humanidade o poder está nas mãos dos trabalhadores (que possuem conhecimento) e numa sociedade que a cada dia estabelece mais seu funcionamento sobre essa base informacional, escolher agir como feitor é não só cada vez mais obseleto como também pouco inteligente. E não adianta querer fingir ser mentor, pois na era da metáfora da informação que ocupa aos poucos a metáfora da máquina, não há nada mais valioso do que a autenticidade. Do mesmo jeito que informação falsa é informação sem utilidade, um gestor não autêntico é sério candidato a servir de deboche, como acontece com a personagem do Steve Carell no seriado The Office, um chefe que "se acha" mas que não é  levado a sério por ninguém.

Jesus voltando hoje à terra talvez atualizasse suas bem aventuranças para algo do tipo: bem aventurados os que se sensibilizam, os que se emocionam, os que são autênticos, os que percebem (realmente) que do outro lado da mesa do escritório, que na caixinha de baixo do organograma, que na carteira escolar a sua frente, que na maca funcionalmente disposta nos ambulatórios, que no aconchego dos lares ou que nos sites de relacionamento, não estão apenas empregados, subordinados, alunos, pacientes, filhos ou amigos, mas sim pessoas, seres humanos, sensíveis, complexos, contraditórios, maravilhosos, enfim, gente! 

Fui testemunha ontem de uma belíssima ação de mentoria para com pessoas com quem a vida não tem sido muito fácil, pessoas simples, mas muito humanas, demasiadamente humanas como diria novamente o Nietzsche. Da mesma forma que, como diz um provérbio de um local que não lembro qual, quem realiza seu trabalho como máquina torna seu agir como máquina, quem faz seu trabalho de forma humana torna a (nossa) vida mais humana. Que bom que existem pessoas assim no mundo, bem aventuradas, bem aventureiras! 

2 comentários:

  1. Muito bom...me ajudou mto em um trabalho q fiz de tema:Gestor diferente de feitor,gestor igual a mestre.Parabéns obg

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  2. Obrigado Alline! Fico muito feliz que o texto tenha te ajudado neste trabalho. Um bom dia! :)

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